NOTAS
Elementos potencialmente tóxicos e índices de poluicao em solos e sedimentos do garimpo de Serra Pelada, Brasil
Renato Alves Teixeira1*; Edna Santos de Souza1 & Antonio Rodrigues Fernandes1
1. Universidade Federal Rural da Amazônia, Brasil
* Autor de contacto: alves.agro@gmail.com
Recibido: 29-12-16
Recibido con revisiones: 12-04-17
Aceptado: 25-04-17
RESUMO
A exploração mineral é uma das principais fontes de contaminação dos solos por elementos potencialmente tóxicos (EPTs). O objetivo foi avaliar os teores totais e disponíveis de boro (B) estrôncio (Sr) e vanádio (V) em solos de Serra Pelada e inferir sobre a contaminação por estes elementos. Os teores totais e disponíveis foram extraídos com água régia e ácido clorídrico, respectivamente. A determinação foi feita por espectrometria de emissão ótica com plasma acoplado indutivamente. Foram calculados o fator de contaminação (FC), fator de enriquecimento (FE) e o índice de carga poluente (ICP). Os teores totais e disponíveis encontrados são altos, o que foi atribuído principalmente ao material de origem. O V foi o elemento com maior FE (7,8), o que mostra que a ação antrópica a partir das atividades de garimpagem causou o enriquecimento das áreas com este elemento. O FC também foi maior para V, chegando a 3,40 no sedimento retirado da mina. O elevado FE indica que houve enriquecimento por EPTs nos solos de Serra Pelada devido as atividades antropogênicas. A partir dos valores do FC e do ICP infere-se que houve contaminação dessas áreas, o que pode representar risco ao ecossistema circundante e a população que habita a região.
Palavras chave: Metais pesados; Mineração; Garimpo.
Potentially toxic elementx and index of polution in soils and taillings of Serra Pelada, Brazil
ABSTRACT
Mineral exploration is one of the main sources of soil contamination by potentially toxic elements. The objective was to evaluate the total and available levels of boron (B), strontium (Sr), and vanadium (V) in soils of Serra Pelada and infer if these soils were contaminated by these elements. The total contents were extracted with h aqua regia in digester block, the content availability were extracted with 0.5 mol L-1 hydrochloric acid, the determination was made by optical emission spectrometry with inductively coupled plasma (ICP OES). The contamination factor (FC), enrichment factor (EF) and the pollutant load index (PLI) were calculated. OV was the element with the highest EF 7.8, which showed that human action from the mining activities caused the enrichment with this element in the area. The FC was also higher for V, reaching 3.40 in sediment removed from the mine. On average the index pollution load (PLI) showed that there was contamination in the area by metals. The FC and the PLI showed that there was contamination of these areas by the studied elements, which may represent a risk to the surrounding ecosystem and the population inhabiting the region.
Key words: Heavy metals; Mining; Gold-digging.
INTRODUÇÃO
Em áreas de mineração artesanal Au é recorrente a
ocorrência de danos ambientais como o assoreamento e
desvio de rios, o desmatamento, a degradação da paisagem
e a destruição do habitat e da vida aquática (Mol & Ouboter,
2004). Além disso, a atividade de mineração é uma importante fonte de contaminação por elementos potencialmente tóxicos (EPTs), a partir da geração de efluentes, da
poeira emitida e da disposição de rejeitos e estéreis que
podem contaminar o solo e a água (Rashed, 2010).
O garimpo de Serra Pelada, localizado na província
mineral de Carajás, Pará, Brasil, foi a primeira reserva de
extração artesanal de ouro (Au) do Brasil. Descoberto em
1980 foi o local da maior corrida de Au da era moderna
(Veiga & Hinton, 2002). Durante 4 anos cerca de 80 mil
homens trabalharam e extraíram aproximadamente 90 t
de Au.
A mina entrou em colapso em 1984 e a área da cava
encontra-se atualmente inundada. No entorno da mina
se formou uma vila de produtores com pequenos cultivos
de culturas alimentares como a mandioca (Manihot sculenta), oleiricolas, principalmente couve (Brassica oleracea L), alface (Lactuca sativa), pimentão (Capisicum annium) e também pastagens com a predominância de
gramíneas do gênero Brachiaria.
A exploração mineral de Au em escala artesanal emprega técnicas rudimentares. Geralmente é feita por trabalhadores com grande limitação financeira e sem
nenhuma formação técnica sobre como mitigar os impactos causados por essa atividade ao ambiente e a sua saúde
(Spiegel & Veiga, 2010). Isto pode levar a exposição e
consequente solubilização de minerais contendo EPTs, dos
quais boro (B), estrôncio (Sr) e vanádio (V).
O material de origem do solo de Serra Pelada é composto principalmente por carbono amorfo, quartzo, sericita,
caulinita, hematita, goethita, óxidos de manganês, traços
de turmalina, hematita, carbonatos, clorita e magnetita.
Além destes ocorrem relíquias de sulfetos primários como,
pirita, calcopirita, arsenopirita, covelita, bornita, galena,
sulfetos de níquel e níquel-cobalto-cobre (Tallarico et al.,
2000). Estas características apontam para ocorrência de
diversos EPTs, que com a disposição em pilhas de rejeito
podem ter sido acumulados e enriquecidos em superfície.
Alguns destes minerais contém na sua estrutura uma série
de elementos potencialmente tóxicos (EPTs), como, por
exemplo a turmalina, rica em B.
O objetivo foi avaliar os teores totais e disponíveis de
B, Sr e V em solos de Serra Pelada e inferir sobre a possível
contaminação por estes elementos e sobre a relação destes
elementos com os demais atributos químicos do solo.
MATERIAL E MÉTODOS
Serra Pelada está localizada na província mineral de Carajás, no estado do Pará na margem leste da Amazônia brasileira
sob as coordenadas geográficas 56’50,543’’S e 49º38’44, 795’’W.
Foram escolhidas sete áreas amostrais conforme o uso atual dado pelos moradores e conforme a disposição do rejeito e do estéril
feita pelos garimpeiros. Foram realizadas coletas em sete áreas
(A): A1 - área sem deposição de rejeito e/ou estéril; A2 - área
de depósito de rejeito e/ou estéril; A3 - área com pilha de estéril
(sedimentos retirados da mina, na qual não foi feita extração
de Au pelos garimpeiros); A4 - área com pilha de rejeito, denominada pelos garimpeiros de curimã, na qual houve extração
de Au; A5 - sedimento retirado do lago da cava da mina; A6 - área com sistema agroflorestal-SAF, formada há aproximadamente sete anos, cultivado atualmente com banana (Musa spp),
cupuaçu (Theobroma grandi-florum) e cacau (Theobromacacao), essa área tem sido afetada pela atividade garimpeira
a partir da recorrente pratica de mobilização e reprocessamento
de rejeito retirado da cava da mina ou das pilhas de rejeito
nas áreas residenciais A7 - área de mata ciliar não impactada
durante o processo de extração artesanal de Au, constituindose no tratamento referência.
Foi utilizado trado holandês de aço inoxidável em todas as
coletas, para evitar contaminação. Foram coletadas 10 amostras
simples de solos para constituir uma amostra composta, nas
profundidades de 0,00-0,20 m e 0,20-0,40 m. Em cada área de
coleta foram feitas três amostras compostas. As amostras foram
secas ao ar e peneiradas em peneira de 2 mm, homogeneizadas
e armazenadas em potes de polipropileno até as análises.
Os teores totais foram extraídos por água régia (HCl + HNO3 em proporção de 3:1) segundo o método preconizado por
Mcgrath & Cunliffe (1985). Os teores disponíveis foram extraídos por ácido clorídrico (HCl) 0,5 mol L-1, segundo Tedesco et
al. (1995).
A determinação de B, Sr e V foi feita por espectrometria
de emissão ótica com plasma acoplado indutivamente (ICP-OES). Os atributos físicos e químicos dos solos foram obtidos
conforme Embrapa (2011). O carbono total e o nitrogênio total
foram determinados por combustão via seca. O K foi extraído
por Mehlich 1 e determinado por fotometria de chama. O Ca,
o Mg e o Al foram extraídos KCl e determinados por titulação.
O pH, em potenciômetro, na relação solo:água de 1:2,5. O carbono
orgânico total-COT pela oxidação com K2Cr2O7 e titulação com
sulfato ferroso amoniacal. A matéria orgânica foi estimada com base no C orgânico total x 1,722. Os teores de óxidos de Si, Al,
Fe, Mn e Ti foram extraídos com H2SO4. Os óxidos de Fe, Al e
Mn foram determinados por espectrometria de absorção
atômica, o Ti por colorimetria e o Si por gravimetria em seguida
foram calculados os índices Ki e Kr.
A avaliação da contaminação dos solos por EPT foi feita
utilizando o fator de enriquecimento (FE), o fator de contaminação
(FC) e o índice de carga poluente (PLI). Estes índices foram calculados utilizando os teores de referência os encontrados na área
de mata ciliar (P7), uma vez que os valores de referência de
qualidade que normalmente são utilizados, não foram estabelecidos ainda para o estado do Pará. Além disso, Serra Pelada
está situada em um veio hidrotermal, uma das principais fontes
de EPT, indicando a ocorrência de elevados valores naturais,
consequentemente valores de referência mais elevados para
a região. O FE foi calculado conforme a equação 1:
Onde, X1 é a concentração do elemento no solo (mg kg-1), Y1 é a concentração de Fe na amostra (mg kg-1), X2 é a concentração
do elemento no P7 e Y2 a concentração de Fe no P7. FE < 1 indica
que não há enriquecimento, FE >1 < 3 indicam baixo enriquecimento, FE >3 < 5 enriquecimento moderado, >5 < 10 enriquecimento moderadamente grave, > 10 < 25 enriquecimento
grave, >25 <50 o enriquecimento é muito grave, > 50 o enriquecimento é extremamente grave (Sakan et al., 2009).
O FC foi obtido pela da razão entre a concentração do
elemento potencialmente tóxico no solo e o valor de referência
de qualidade aqui substituído pela concentração no P7, obtido
pela equação 2:
Onde FC é fator de contaminação, [C]EPT é a concentração do
elemento potencialmente tóxico no ponto amostrado e [C]P7 é a concentração do EPT no ponto 7. Os FC foram interpretados
de acordo com o sugerido por Hankanson (1980) onde: FC < 1
sem contaminação; FC >1 < 3 indica contaminação moderada;
FC > 3 < 6 indicam a áreas com considerável contaminação,
FC > 6 indicam áreas altamente contaminadas.
O índice de carga poluente (PLI) de cada ponto de coleta
foi obtido através da raiz enésima da multiplicação dos FC de
todos os metais utilizando a equação 3:
Quando PLI < 1 indica não contaminação por elementos
potencialmente tóxicos, de outro modo, quando PLI > 1 há poluição por metais pesados.
Foi usado análise multivariada de redundância (RDA em
inglês) para avaliar as relações entre EPTs e os atributos do
solo argila, nitrogênio total, carbono total, óxidos de alumínio,
ferro, manganês e titânio, pH e a capacidade de troca de cátions.
Para isso foi utilizado o software Canoco 5.0 (versão teste). Os
p<0,05 foram considerados para indicar o nível de significância
estatística.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O pH dos solos e dos sedimentos de Serra Pelada variou entre 4,1 e 6,9 (Tabela 1). Os menores valores de pH foram observados na floresta e na área de sistema agroflorestal (SAF), na camada de 0 a 0,2 m foi de 4,2 e 5,5, respectivamente. Estes valores são semelhantes aos observado em Latossolos, sob floresta nativa, em outras regiões do estado do Pará, cuja média foi de 4,61 (Birani et al., 2015). O baixo pH encontrado está diretamente associado as condições de intemperismo intenso que em conjunto com a rápida e contínua decomposição da matéria orgânica (MO) causam a liberação de íons H+ e, por conseguinte a acidificação do solo (Sousa et al., 2007).
Tabela 1. Atributos químicos dos solos e sedimentos de Serra Pelada.
Table 1. Chemical attributes of soils and sediments of Serra Pelada.
1Matéria orgânica do solo 2Óxido de silício 3Óxido de alumínio 4Óxido de ferro 5Óxido de titânio 6Óxido de manganês 7Ki
8Kr
9Capacidade de troca de cátions 10Carbono total
11Nitrogênio total
Por outro lado, nas pilhas de rejeito e estéril, no sedimento retirado da mina e nas margens foi observado pH
mais elevado, isto está relacionado a ocorrência de minerais
carbonáticos (Tallarico et al., 2000). O processo de
dissolução de minerais carbonáticos consome íons H+ e
geram espécies aquosas de carbonato, elevando o pH do
solo (Lindsay et al., 2015). Na Bolívia, em área de mineração
artesanal de Au, foi encontrado pH variando entre 4,6 e
4,9, o que foi atribuído a ausência de minerais carbonáticos
no solo (Faz et al., 2014).
Nas pilhas de rejeito, estéril, no sedimento da mina e
na margem o teor de MO e nitrogênio total (NT) é baixo,
isto está relacionado a recente exposição deste rejeito e a
possível alta concentração de elementos potencialmente
tóxicos (EPT) que impossibilitam a colonização por espécies
vegetais pioneiras.
Os teores de MO encontrados nas áreas de floresta e
SAF, de 12,9 e 11, 3 g kg-1 respectivamente, estão no
intervalo esperado para solos do estado do Pará de 5,6 e
18,1 g kg-1 obtido por Birani et al. (2015), em 46 Latossolos
em área de floresta e 6,5 a 14,1 g kg-1 para 26 Argissolos.
Os teores de MO presentes nos solos de Serra Pelada se
aproxima mais ainda aos observados por Souza et al. (2015), que avaliaram 135 amostras de sete classes de solos sob área de floresta na região da transamazônica no Pará (8,9
e 10,1 g kg-1).
Os teores totais e disponíveis B, Sr e V, variaram entre
os pontos de coleta para as duas profundidades avaliadas
(Fig 1). O estado do Pará não possui valores de referência
de qualidade (VRQ) para estes elementos, o que dificulta
qualquer ação de monitoramento e tomada de decisão em
relação a possíveis impactos ambientais.
Figura 1. Teores totais e disponíveis de B, Sr e V, na camada de 0 a 0,2 m (A, B e C) e na camada de 0,2- 0,4 m (D, E e F).
Figure 1. Total and available B, Sr and V contents in the 0 to 0.2 m (A, B and C) and in the of 0.2-0.4 m soil layers.
Os teores totais de B variaram entre 72 e 205 mg
kg-1, teor superior ao estabelecido como VRQ para o
estado de Minas Gerais de 1,5 mg kg-1 (Mello & Abrahão,
2013) e para os teores observados em nível mundial que
varia entre 10 e 100 mg kg-1 (Kabata Pendias, 2011). Os
elevados teores de B encontrados no solo de Serra Pelada
está relacionado a turmalina, mineral presente no material geológico (Cabral et al., 2002).
Os teores disponíveis de B variaram de 0,7 a 10 mg
kg-1,
na camada superficial, e de 0,2 a 6 mg kg-1 na camada
subsuperficial. Teores mais elevados de B na camada de
superfície estão relacionados ao maior teor de MO. O B
forma complexos e quelatos com os grupos funcionais da MO, o que reduz as perdas por lixiviação (Lima et al., 2007).
Em solos ácidos a MO é o atributo do solo que mais
influência na mobilidade e disponibilidade de B no solo (
Kabata-Pendias, 2011). Após a mineralização da MO o Bé liberado para a solução do solo, e pode ser adsorvido nos
coloides orgânicos ou perdidos por erosão e lixiviação,
levando a contaminação de recursos hídricos (Kabata-Pendias, 2011).
Os teores de Sr variaram entre 7,8 e 27,7 mg kg-1 (Fig
1). Estes valores estão abaixo dos teores mundiais, que
variam entre 130 e 240 mg kg-1 (Kabata Pendias, 2011).
Baixos teores nos solos estudados se devem
ao elevado
grau de intemperismo dos solos amazônicos. Em Mariana,
Minas Gerais, foi constatado teores de 10 mg kg-1 (Corrêa,
2006), abaixo dos valores obtidos em Serra Pelada, principalmente para camada superficial.
Os teores totais de V variaram entre 3,0 e 251,4 mg
kg-1 a média mundial é de 129 mg kg-1, podendo variar entre
69 e 320 mg kg-1 (Kabata Pendias, 2011). Os teores de V
no solo têm estreita relação com a rocha matriz. Serra Pelada
está alicerçada sobre um veio hidrotermal e, na área de
influência do garimpo é verificada uma forte predominância de rochas vulcânicas (Almada & Villas, 1999), o que explica as elevadas concentrações. Em solos de Minas Gerais,
Mello & Abrahão (2013), relataram teores médios de V no
solo de 129 mg kg-1.
Os teores disponíveis de V no solo variaram de 0,2 a
26 mg kg-1, sendo o teor mais elevado na área de SAF (Fig
1c e Fig 2c). Diferentemente de outros pontos onde foram
depositados rejeito ou estéril, o SAF proporcionou maior proteção ao solo, mantendo maior teor de MO, o que pode
ter diminuído as perdas por erosão e lixiviação do V, justificando os altos teores neste agroecossistema.
Figura 2. Análise de redundância entre os teores totais e disponíveis de elementos potencialmente tóxicos e os atributos do solo.
Figure 2. Redudancy analysis between total and available potentially toxic element content and soil attributes.
A relação entre os atributos e propriedades de solo e
os teores totais e disponíveis de EPTs foram analisados pela
análise de redundância (RDA). O primeiro e segundo axis
da RDA explicaram 76 e 14%, respectivamente, da variação
total (Fig 2). Os teores totais de Sr, V e B correlacionaram entre si e com os óxidos de Fe e Ti e ao pH (Fig 2). A correlação entre Sr, V e B pode estar relacionado ao fato desses
metais competirem pelos sítios de adsorção nos óxidos, bem
como o maior teor desses metais nessa fração do solo
(Agnieszka & Barbara, 2012). Em regiões tropicais os óxidos
de Fe são componentes importantes na sorção de EPTs no
solo, devido a sua abundância (Rieuwerts, 2007).
Correlação positiva entre pH e os teores totais na área
de estudo, estão relacionadas aos valores de pH, que acima
de 6,0 contribuem para a adsorção de metais na fase sólida,
o que reduz a disponibilidade e mobilidade no solo (Rieuwerts,
2007), aumentando os teores totais. A correlação negativa
entre os teores disponíveis e o pH indica que a liberação desses
metais para o ambiente vai ocorrer se as condições do meio
se tornarem ácidas (Isen et al., 2013).
Os teores disponíveis apresentaram relação entre si e
com a CTC (Fig 2). Esse resultado indica que a variação nos
teores disponíveis estar relacionada a capacidade sortiva das propriedades do complexo sortivo. A biodisponibilidade
de metais no solo depende das suas formas fisioquímicas,
a forma iônica, ligado ao carbono orgânico ou a adsorvida
nas superfícies dos óxidos e argilominerais (Dipu & Kumar,
2013). Os óxidos compõem a fração argilosa dos solos e
quanto maior o teor de argila maior a adsorção de metais
(Gäbler et al., 2009). A CTC em solos tropicais é formada
principalmente pela superfície específica dos óxidos. A
ausência de correlação entre o CO e os metais pode estar
relacionada a heterogeneidade no teor de CO entre as áreas
estudadas.
Houve enriquecimento de V, variando entre baixo e
moderadamente grave, sobretudo nas pilhas de estéril
(Tabela 2). O enriquecimento por B é considerado baixo,
sendo o maior valor de 1,31, na pilha de rejeito, apesar dos
altos teores totais encontrados, o que está relacionado as
elevadas concentrações mesmo na área de floresta, devido
ocorrência de turmalina. O enriquecimento por Sr também
foi baixo em todos os pontos amostrados (Tabela 2).
Tabela 2. Fator de enriquecimento (FE) de B, V e Sr em solos de Serra Pelada.
Table 2. Enrichment factor (EF) of B, V and Sr in soils of Serra Pelada.
O fator de contaminação (FC) encontrado para B foi considerado moderado, cujos os valores variaram entre>1 < 3, (Tabela 3). Isto pode estar relacionado ao alto teor de B também na área de referência, 144,69 e 132,74 mg kg-1, na camada de 0-0, 2 m e 0,2-0,4 m, respectivamente (Tabela 3).
Tabela 3. Fator de contaminação (FC) e índice de carga poluente (ICP) para B, V e Sr em solos de Serra
Pelada.
Table 3. Contamination factor and pollutant load index for B,V and Sr in soils of Serra Pelada.
O FC para V em todos os pontos amostrados indica que
houve contamina ção e que esta variou de moderada, FC>1 < 3, a consideravelmente contaminada, FC > 3 < 6. Os
maiores FCs foram observados na margem 2 do garimpo,
3,18 em superfície e 3,71 e na profundidade de 02-0,4 m
(Tabela 3).
Em superf ície, o índice de carga de poluenteo variou de
0,04 a 1,75, enquanto que na profundidade de 0,2-0,4 m
variou de 0,01 a 3,48 (Tabela 3). Em média, foram encontrados valores de PLI de 1,17 e 1,49 nas profundidades de
0-0,2 m e 0,2-0,4 m, respectivamente. Esses resultados
indicam que existe poluição para B, V e Sr na área em ordem
decrescente: mina > margem 2 > pilha de rejeito > SAF> pilha de estéril > margem 1, em superfície. Na profundidade
de 0,2 – 0,4 m a ordem é a seguinte: margem 2 > mina > SAF > pilha de rejeito > pilha de estéril > margem 1.
CONCLUSÕES
A diversidade mineral e as diferentes formas de uso do solo possibilitam que os atributos do solo variem em ampla escala de valores em Serra Pelada o que dificulta a adoção de medidas de remediação da área. No entanto o nível de contaminação da área exige uma ação imediata de remediação, assim como o estabelecimento valores de referência de qualidade para solos da província mineral de Carajás. O teor total de B e V é alto em toda a área de estudo, o que se deve a formação geológica local. Houve enriquecimento e contaminação da área por B, Sr e V. A maior contaminação ocorreu na área da cava da mina e na margem, seguidas pelas pilhas de rejeito e estéril.
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